um dia das mães bem clichê
Dorian
- Dorian, venha aqui. – Ela me deu o ponto para que eu colocasse no ouvido e começou a arrumar a correia da minha guitarra. Todas as vezes que Marina ia ao meu show, ela é quem cuidava de tudo o que me envolvia. Essa era uma tradição que eu não tinha vontade nenhuma de quebrar. – Tira esse cabelo do olho, menino. Já disse que suas fãs precisam olhar nesses olhos para derreterem com a sua fofura e carinha de bom moço. – Eu ri. Essa era a Marina.
Muita coisa mudou desde que Marina entrou na nossa vida. Eu era um moleque bem chatinho e mimado no começo, mas meus pais foram me colocando na linha pouco a pouco. Quando eu digo meus pais, quero dizer Marina e Killian. Não sei qual foi o momento em que parei de tratá-la mal e aceitei que ela era minha pessoa favorita no mundo. Sei que fui uma criança bem rebelde e a deixei louca muitas vezes, mas não podia pensar em perdê-la. Não demonstrei, mas ela era uma das pessoas mais importantes na minha vida. Vinte anos e um Dia das Mães foram necessários para que eu percebesse isso.
- Acho que vou cortar. – Era o dia dela, afinal. Acho que poderia ouvir o pedido dela e fazê-la feliz no dia de hoje. Mal as palavras terminaram de sair dos meus lábios, um enorme sorriso se formou no seu rosto.
- Você está brincando comigo, menino? Eu trago seu cabeleireiro aqui agora e ele corta esse cabelo antes de você subir no palco.
Eu gargalhei. Tinha certeza de que ela faria exatamente isso.
- Faltam cinco minutos, mulher! – Tentei argumentar.
- Mas não quero perder minha chance!
Juro, ela estava olhando para todos os lados, prestes chamar quem pudesse trazer meu cabeleireiro. Eu ri novamente, porque ela sabia ser louca quando queria, beijei seu rosto e peguei o microfone que alguém me deu. Marina Duarte-Manning é uma das minhas pessoas favoritas nesse mundo.
- Depois do show, antes de sairmos para comemorar. – Ela rolou os olhos.
- Por que eu pressinto que você vai me enrolar de novo, garoto?
Ela estava certa, eu iria enrolar. Estava nessa minha fase de cabelo comprido, adorava e não pretendia mudar nada.
- Vai me ver cantar na lateral do palco, mulher. É a hora do show.
Você deve estar me julgando por estar fazendo um show em pleno Dia das Mães. Pode julgar mesmo, eu sou maluco. É por isso que decidi fazer essa noite dedicada a elas. Minha equipe trouxe suas famílias, vamos ter uma grande confraternização e, o mais importante, minha família inteira está aqui. Tio Carter e companhia inclusos. Quando subi ao palco, foquei no show e vi que o público da noite era exatamente o que eu queria. Mulheres para todos os lados com suas mães, o dia delas na quinta turnê mundial de Dorian Manning. Minhas fãs são as melhores do mundo e eu tinha que agradecer à mãe delas por permitir que elas perseguissem a loucura de me amar.
Eu estava no meio do show quando resolvi fazer a surpresa da noite. O silêncio que se seguiu ao meu pedido por atenção foi o mais profundo da noite. Minhas fãs e eu tínhamos uma conexão que poucos possuíam. Elas sabiam interpretar meu ânimo apenas pelas minhas expressões e eu podia sentir o que cada uma estava sentindo ao olhar em seus rostos. Agora, elas entendiam que eu tinha um assunto muito sério a falar.
- Quando eu tinha de seis para sete anos, perdi a minha mãe. São poucas as lembranças que eu tenho de Mitchie hoje, a maioria delas são coisas que me contaram. E eu fui uma criança um pouco rebelde por conta disso. Meu pai se casou com uma mulher incrível e, desde que ela entrou na nossa família, eu a tratei mal. Por muito tempo. Eu sempre a excluía, porque não queria perder as lembranças da minha mãe e era pequeno demais para entender que ela só queria me dar amor. – Eu respiro fundo e procuro os olhos dela no canto do palco. Chorona como é, Marina está com os olhos cheios de lágrimas e eu nem comecei. – Mas eu cresci. E quando disse à minha família que não queria ser empresário ou médico, como meus irmãos, ela foi a primeira a me apoiar. Aquela que me ensinou o meu primeiro acorde. Aquela que me mostrou que eu podia sim cantar. E aquela que, dia após dia, me encoraja a subir nesse palco e cantar na frente de milhares de pessoas. É por isso que hoje, nesse Dia das Mães, eu gostaria de ter a honra de cantar para você, Marina. – Então eu olhei para ela e fiz sinal para que viesse até onde eu estava. Levantei-me do banquinho e pedi que ela sentasse. Ajustei o pedestal do microfone para ficar de frente para ela. Minhas fãs iriam me perdoar, mas eu precisava cantar essa música olhando nos olhos dela. – Eu sei que nunca fui um bom filho para você. Que eu sempre deixei você maluca. Que eu nunca disse o quanto você é especial para mim. – Ela negava com a cabeça, como se dissesse que era bobagem, mas ela sabia que não era. Eu fui um peste enquanto crescia. Segurei a mão dela, sem desviar meus olhos. – Você sabe que meu jeito de dizer as coisas que eu sinto é cantando e, por isso, eu quero dizer a você hoje, na frente de todas essas pessoas, o que eu não disse nos vinte anos que nos conhecemos. – Soltei a mão dela e comecei a melodia lentamente no violão. – Isso é para você, mãe.
A música que eu cantei se chamava The Perfect Fan e era dos Backstreet Boys. Falava sobre alguém que ensinou as pequenas e as grandes coisas, que ensinou o amor e que esteve ao lado em todos os momentos. Falava sobre o amor de mãe com o qual eu fui amado graças à presença dela na minha vida. Mostrava o quanto Marina Duarte-Manning era a fã perfeita.
Enquanto eu cantava, imagens nossas passavam no telão. Ally, eu, papai e Mitchie. Nós sem Mitchie. Marina conosco, o bebê. Colin nascendo, todos nós crescendo. A nossa família. Marina, suas lágrimas por todo lugar, não conseguia se decidir se olhava para as imagens ou se acompanhava minhas mãos no violão. Quando me olhava, eu podia ver felicidade e eu esperava que fosse por ver que aquele menininho rebelde tinha crescido. Eu esperava dar orgulho para ela agora.
Acho que eu nunca tinha dito a ela quão importante foi tê-la comigo em cada parte do caminho. Acho que eu nunca tinha chamado Marina de mãe, que é o que ela foi esse tempo todo para mim. Alison fazia isso desde que entendeu que ela seria a mulher que cuidaria de nós dois, mas eu sempre fui meio burro quanto a isso. Eu nunca disse à Marina que eu a amava, mesmo que sentisse isso por ela desde o momento em que apareceu na minha casa com um violão na mão.
É por isso que eu coloquei meu violão para trás e abri os braços para recebê-la. A mulher que remendou o coração do meu pai. A mulher que ensinou valores a mim e meus irmãos. Que nos incentivou a seguir as carreiras pelas quais somos apaixonados. A mulher que cuidou dos machucados e corações partidos durante toda a nossa vida. A minha segunda mãe.
- Feliz Dia das Mães, mãe.